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Coisas que escrevo, Coisas que me apeteceu partilhar, Coisas que gostei, Coisas que achei piada, Coisas... Incluindo aquilo que já não sei porque partilhei...
Embriagados de prazeres terrenos
Nos embalos de venenos
Bebemos e comemos.
Cantamos e maldizemos
Na missa sagrada do Deus de Amor
Na coerência cartesiana do pecador,
Prenhe de certezas e humildades
Bajulador.
Compramos bulas e vendemos banhas de cobra,
Somos seres iluminados,
Cínicos idiotas que na nossa esperteza saloia cuidamos ser finos.
Queremos ser famosos,
Queremos ter um lugar no céu,
Queremos ser inteligentes,
Queremos ser belos...
Mas somos frouxos,
Chico-espertos,
Esmifras e mesquinhos.
Escondemo-nos em máscaras!
E somos reles bastardos que batem com a mão no peito,
E dizem mal do vizinho minutos depois...
Queixar... confessar e rezar.
E o mundo a andar,
A andar...
Arrependemo-nos no leito...
Mas o mal já está feito.
Quem me pôs dentro de mim esta ânsia ardente
De quão é belo e puro e luminoso
se eu tinha de viver, humanamente,
Prisioneira d'um mundo tormentoso?
Quem me formou um coração fremente,
Torturado, exigente, cobiçoso
D'altura, d'infinito - se, imponente,
Veria limitar meu vôo ansioso?
Ah! Não sou deste mundo! O meu país
Não é este, onde o sonho contradiz
A realidade! Eu sou uma exilada,
Que um duro engano fez nascer aqui!
Tirem-me da prisão onde caí!
Arranquem-me as algemas de forçada!
Florbela Espanca